Vou contar uma história, que como outra qualquer, vem da voz dos vencedores. Perdedores são chamados assim, antes de tudo, por não terem direito adquirido à oratória. Desta vez eu é que vou falar por eles.
Ontem 15h. A bichana Capitu já tinha desaparecido há pelo menos 2 horas. Entre os problemas decorrentes disto, briguei com a minha irmã, por motivos que só aparecem quando o estado emocional é limite. Razão certa pelo motivo errado. Ela prontamente abandona o barco.
A mãe a estas alturas já tinha tido uma crise de angina...e eu fazendo linha “tudo sob controle”.
5 horas depois nada do bicho. Só ficava pensando: Muito cedo! A Sofia tinha morrido há 3 semanas de câncer. Muito cedo pra ela ou pra mim?
Lá pela meia noite vejo o guarda com uma lanterninha atrá da Capitu pelos jardins do condomínio. Nada da bicha. Fico pensando que este guri perdeu a mãe há um mês num assalto, e que pela primeira vez vejo ele sem os óculos escuros pra esconder os olhos inchados.
Lá pelas 3 da manhã era eu que já estava com os olhos inchados, talvez por um motivo menos nobre? A nobreza está nos sentimentos, não na causa. Não dava pra dormir, resolvo fazer mais uma tentativa. Desço e levo comigo a Tina, minha Street, SRD ou vira latas.
Foram 40 segundos. Ela saiu do prédio, pegou a direita farejando. Começou a cavar a terra e abanar o rabinho. Estava ali, peguei a Capitu num só puxão, no meio de uma planta rasteira. Tinha procurado ela ali umas 10 vezes e nada. A Tina foi por instinto. Chorei um pouquinho. Não sei se agradava a gata ou a cachorra. O fato é que as duas eram amigas e conheciam o cheiro uma da outra.
Vocês ainda acham que os animais são uma categoria inferior? Fico pensando, desde quando reservei aos bichos uma parte importante da minha vida. Não sei, acho que nasci assim. E graças a isto, o respeito pela inteligência animal, é que agora a Capitu está dormindo em casa. Meio ruinzinha é verdade, mas feliz depois de ter sobrevivido a uma queda de 5 andares.
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