quinta-feira, março 01, 2007

quinta

O pessoal de Bora Bora está convidando: Vêm, é divertido aqui! Eu sei, mas e o que fica pra trás? Vêm junto! E o resto? Guarda as lembranças. E se não forem muitas? Não se anda pra trás. Tenho a mania de andar em bloco. Mesmo pelo incerto? Principalmente pelo incerto, o certo já está comigo. Dá pra conviver com a perda? Dá, mas tem a angústia, esta não me larga nunca. O destino está nas tuas mãos. Eu sei, e a angústia também.

Apego ao lixo. Que adianta guardar o primeiro casaquinho, o boletim do segundo ano, as fitas que não foram ao ar. A história também anda em bloco. Tenho uma caixa onde guardo as cartas. Nem me lembro onde. Mas é importante ter a chance de reler. A gente aposta nas chances. Até que alguém avise que se foram na última mudança.

Helena e Paolo trabalham juntos há mmmuuiittos anos. Ela é minha cúmplice e sempre dá um jeitinho, um conselho, ou como conseguir coisas do Paolo. Ele sabe, só ri.

Paolo vai me emprestar um cajado e a boina com tapa orelha. Ele usa sempre pelas andanças no mundo. Quem diria, o cara que adora siso tem muito em comum comigo. É mais fácil agüentar a parafernália dentro da boca, com alguém que te recita versos da sua última viagem.

Me ocorreu que os heróis são terrenos, e na maioria das vezes estão do nosso lado. Que pena, nem sempre a gente vê. Mas estou aperfeiçoando os sentidos, pra nunca perdê-los.

quarta-feira, fevereiro 28, 2007

quarta

Hoje bateu o cansaço.
Vou dormir de cabelo molhado mesmo.

Dr. Paolo adora me questionar enquanto tenho uma broca, um molde enorme, um suga cuspe e um monte de “cimento cirúrgico” na boca.

Dr. Paolo, eu parecia estar resmungando, mas na verdade era só uma tentativa vitoriosa de respirar.

Hoje aprendi com ele: Pra quebrar um dente, basta ter dentes. Sábia filosofia de botequim, as melhores e mais certeiras. Serve pra tudo na vida.

Durante algum tempo pensei seriamente em cursar filosofia. Mas achei que era muita “pensação” pra uma cabecinha já tão cheia de questionamentos.

Aposto que vocês já repararam. Quem não pensa é mais feliz.

De qualquer forma a única filosofia, ou aquela que vale mais a pena é a que se põe em prática. O resto são “tiurias inúteis”.

Minha maior dúvida atualmente é: Até que ponto dividir? Falo tão pouco, e no final sempre acho que falei demais. Por isto desculpas.

Tem coisas que jamais devem ser divididas, mesmo que importantes.

Agora tudo isto é problema meu, ou nosso né Mim?

segunda-feira, fevereiro 26, 2007

ZZZZZzzzz

Tenho pensado muito, só que isto não tem levado a lugar algum. Não é uma conta matemática, nem obra de algum estudo científico. Nestes casos a informação clara ajuda muito, e em outros também, mas só eu acho isto.

Técnicas de assalto. Descubra o nome do ladrão. Diga várias vezes o nome dele e o seu. Personalizar funciona, se preocupar com a rotina também. Conheço alguém que tem feito isto comigo. Brilhante conhecimento da psicologia, o problema é que conheço a técnica, mas as vezes finjo que não sei.

Nem sempre as pessoas se encontram dispostas. Continuo no mar de incertezas. Só que isto está começando a doer.

Descobri o que move a professora russa substituta de power jump: Churros. 15 dias de churros sem ginástica põe qualquer atleta de prontidão. Depois disto até comecei a achar a tal simpática...

O que te move?
O que me move?

Cada um tem a sua causa, assim como Antoine-Jean-Baptiste-Marie-Roger de Saint-Exupéry tinha a sua. Me identifico completamente. Morreu pilotando seu avião no meio do Mediterrâneo. Nunca foi encontrado. Vou comprar um exemplar do “Pequeno” e deixar na mesa. Deve existir alguma coisa fora de mim que ajude a resolver o que tem dentro.

Hoje o dentista disse, que o dente de cima quebrou o debaixo porque o siso entortou. Significa que vou ter de tirar outro siso? ENLOUQUECERAM!

Quatro mãos dentro da minha boca pra dizer que tem dente demais?

Resenha sobre “O Pequeno Príncipe”. Pra dizerem que não sou totalmente louca. Uma interpretação de 20 linhas. Será que ele teria gostado?

“O pequeno príncipe é uma obra aparentemente simples, mas, apenas aparentemente. É profunda e contém todo o pensamento e a "filosofia" de Saint-Exupéry. Apresenta personagens plenos de simbolismos: o rei, o contador, o geômetra, a raposa, a rosa, o adulto solitário e a serpente, entre outros. O pequeno príncipe vivia sozinho num planeta do tamanho de uma casa que tinha três vulcões, dois ativos e um extinto. Tinha também uma flor, uma formosa flor de grande beleza e igual orgulho. Foi o orgulho da rosa que arruinou a tranqüilidade do mundo do pequeno príncipe e o levou a começar uma viagem que o trouxe finalmente à Terra, onde encontrou diversos personagens a partir dos quais conseguiu descobrir o segredo do que é realmente importante na vida.
É uma obra que nos mostra uma profunda mudança de valores, que ensina como nos equivocamos na avaliação das coisas e das pessoas que nos rodeiam e como esses julgamentos nos levam à solidão. Nós nos entregamos a nossas preocupações diárias, nos tornamos adultos de forma definitiva e esquecemos a criança que fomos.”

Considerem que o capítulo da raposa foi a última coisa que deixei antes das férias, mesmo que se sucedam outros.

Vou passar alguns dias enfiando a cabeça no gelo, com sorte talvez vire pingüim.

domingo, fevereiro 25, 2007

XXI


E foi então que apareceu a raposa:
- Boa dia, disse a raposa.
- Bom dia, respondeu polidamente o principezinho, que se voltou, mas não viu nada.
- Eu estou aqui, disse a voz, debaixo da macieira...
- Quem és tu? perguntou o principezinho. Tu és bem bonita...
- Sou uma raposa, disse a raposa.
- Vem brincar comigo, propôs o principezinho. Estou tão triste...
- Eu não posso brincar contigo, disse a raposa. não me cativaram ainda.
- Ah! desculpa, disse o principezinho.
Após uma reflexão, acrescentou:
- Que quer dizer "cativar"?
- Tu não és daqui, disse a raposa. Que procuras?
- Procuro os homens, disse o principezinho. Que quer dizer "cativar"?
- Os homens, disse a raposa, têm fuzis e caçam. É bem incômodo! Criam galinhas também. É a única coisa interessante que fazem. Tu procuras galinhas?
- Não, disse o principezinho. Eu procuro amigos. Que quer dizer "cativar"?
- É uma coisa muito esquecida, disse a raposa. Significa "criar laços..."
- Criar laços?
- Exatamente, disse a raposa. Tu não és para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu não tens também necessidade de mim. Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo. E eu serei para ti única no mundo...
- Começo a compreender, disse o principezinho. Existe uma flor... eu creio que ela me cativou...
- É possível, disse a raposa. Vê-se tanta coisa na Terra...
- Oh! não foi na Terra, disse o principezinho.
A raposa pareceu intrigada:
- Num outro planeta?
- Sim.
- Há caçadores nesse planeta?
- Não.
- Que bom! E galinhas?
- Também não.
- Nada é perfeito, suspirou a raposa.
Mas a raposa voltou à sua idéia.
- Minha vida é monótona. Eu caço as galinhas e os homens me caçam. Todas as galinhas se parecem e todos os homens se parecem também. E por isso eu me aborreço um pouco. Mas se tu me cativas, minha vida será como que cheia de sol. Conhecerei um barulho de passos que será diferente dos outros. Os outros passos me fazem entrar debaixo da terra.
O teu me chamará para fora da toca, como se fosse música. E depois, olha! Vês, lá longe, os campos de trigo? Eu não como pão. O trigo para mim é inútil. Os campos de trigo não me lembram coisa alguma. E isso é triste! Mas tu tens cabelos cor de ouro. Então será maravilhoso quando me tiveres cativado. O trigo, que é dourado, fará lembrar-me de ti. E eu amarei o barulho do vento no trigo...
A raposa calou-se e considerou por muito tempo o príncipe:
- Por favor... cativa-me! disse ela.
- Bem quisera, disse o principezinho, mas eu não tenho muito tempo. Tenho amigos a descobrir e muitas coisas a conhecer.
- A gente só conhece bem as coisas que cativou, disse a raposa. Os homens não têm mais tempo de conhecer alguma coisa. Compram tudo prontinho nas lojas. Mas como não existem lojas de amigos, os homens não têm mais amigos. Se tu queres um amigo, cativa-me!
- Que é preciso fazer? perguntou o principezinho.
- É preciso ser paciente, respondeu a raposa. Tu te sentarás primeiro um pouco longe de mim, assim, na relva. Eu te olharei com o canto do olho e tu não dirás nada. A linguagem é uma fonte de mal-entendidos. Mas, cada dia, te sentarás mais perto...
No dia seguinte o principezinho voltou.
- Teria sido melhor voltares à mesma hora, disse a raposa. Se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde as três eu começarei a ser feliz. Quanto mais a hora for chegando, mais eu me sentirei feliz. Às quatro horas, então, estarei inquieta e agitada: descobrirei o preço da felicidade! Mas se tu vens a qualquer momento, nunca saberei a hora de preparar o coração... É preciso ritos.
- Que é um rito? perguntou o principezinho.
- É uma coisa muito esquecida também, disse a raposa. É o que faz com que um dia seja diferente dos outros dias; uma hora, das outras horas. Os meus caçadores, por exemplo, possuem um rito. Dançam na quinta-feira com as moças da aldeia. A quinta-feira então é o dia maravilhoso! Vou passear até a vinha. Se os caçadores dançassem qualquer dia, os dias seriam todos iguais, e eu não teria férias!
Assim o principezinho cativou a raposa. Mas, quando chegou a hora da partida, a raposa disse:
- Ah! Eu vou chorar.
- A culpa é tua, disse o principezinho, eu não queria te fazer mal; mas tu quiseste que eu te cativasse...
- Quis, disse a raposa.
- Mas tu vais chorar! disse o principezinho.
- Vou, disse a raposa.
- Então, não sais lucrando nada!
- Eu lucro, disse a raposa, por causa da cor do trigo.
Depois ela acrescentou:
- Vai rever as rosas. Tu compreenderás que a tua é a única no mundo. Tu voltarás para me dizer adeus, e eu te farei presente de um segredo.
Foi o principezinho rever as rosas:
- Vós não sois absolutamente iguais à minha rosa, vós não sois nada ainda. Ninguém ainda vos cativou, nem cativastes a ninguém. Sois como era a minha raposa. Era uma raposa igual a cem mil outras. Mas eu fiz dela um amigo. Ela á agora única no mundo.
E as rosas estavam desapontadas.
- Sois belas, mas vazias, disse ele ainda. Não se pode morrer por vós. Minha rosa, sem dúvida um transeunte qualquer pensaria que se parece convosco. Ela sozinha é, porém, mais importante que vós todas, pois foi a ela que eu reguei. Foi a ela que pus sob a redoma. Foi a ela que abriguei com o pára-vento. Foi dela que eu matei as larvas (exceto duas ou três por causa das borboletas). Foi a ela que eu escutei queixar-se ou gabar-se, ou mesmo calar-se algumas vezes. É a minha rosa.
E voltou, então, à raposa:
- Adeus, disse ele...
- Adeus, disse a raposa. Eis o meu segredo. É muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos.
- O essencial é invisível para os olhos, repetiu o principezinho, a fim de se lembrar.
- Foi o tempo que perdeste com tua rosa que fez tua rosa tão importante.
- Foi o tempo que eu perdi com a minha rosa... repetiu o principezinho, a fim de se lembrar.
- Os homens esqueceram essa verdade, disse a raposa. Mas tu não a deves esquecer. Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas. Tu és responsável pela rosa...
- Eu sou responsável pela minha rosa... repetiu o principezinho, a fim de se lembrar.


E eu não conseguiria dizer nada mais bonito que isto.